Pensando sobre o Brasil

O PT nasceu e cresceu sob a égide da ética na política. Sempre fez um discurso pautado na teologia da libertação e na perspectiva da esquerda libertária da esquerda latino-americana. Tudo isso deu no tal modo petista de governar que gerou expectativas desde a primeira até a última candidatura vitoriosa do Lula.

No entanto, antes mesmo de assumir, Lula fez uma profissão de fé ao Deus mercado e praticamente jogou ao chão o “modo petista de governar”. Dias após as eleições de Lula se dizia que o dólar ia subir e que o país entraria em colapso antes mesmo da posse. Lula, numa jogada genial lança o Fome Zero, desvia as atenções e unifica o país no combate a uma das mais cruéis de nossas chagas.

Já empossado, o viés de negociador político que construiu sua carreira se fez notar e “conciliação” passou a ser a palavra chave do seu governo. Isso se mostrou um grande erro pois foi essa política de conciliação que gestou o ovo da serpente que ao fim aprisionou o Lula e lançou o petismo ao limbo político.

Ao longo de dois mandatos a perspectiva da social democracia adotada pelo PT se percebeu pelo vertiginoso crescimento da econmia, numa política externa ousada e protagonica e no investimento na educação superior de qualidade e acessível a todos.

No entanto, as tão aguardadas reformas estruturais não vieram e isso também contribuiu para gestar o bendito ovo da serpente.

Com o advento da Dilma e sua notória incapacidade ao diálogo político, foram se abrindo várias portas até chegar à Lava Jato, Cunha e a espúria aliança política “com os líderes militares, com o Supremo, com tudo”, que jogou o país no colo da direita proto fascista burra e analfabeta que hoje nos governa.

Isto posto vale observar que o PT não inventou a corrupção no Brasil. Ela ocorre desde o primeiro desembarque das caravelas, ocorreu no regime militar, foi acentuada por Sarney e Collor, se escancarou na era FHC e se tornou ostensiva nos governos petistas.

É aí que entra o nó dessa história toda. O brasileiro médio tem memória curta. Foi pensando nisso que a setores da mídia lançaram o projeto de criminalização do PT e da esquerda. Só não contava com que seu projeto seria apropriado por um abjeto deputado do baixo clero que, com o apoio da direita internacional viria a se tornar presidente e agora está prestes a jogar o país no precipício.

Urge então a necessidade da união não só da esquerda partidária mas uma concertação profunda entre todos os campos para agir no sentido de não só impedir o avanço da direita extremada, como também estancar a seara de mortes que está grassando no país nesse momento principalmente entre indígenas e negros.

Precisamos sair da bolha virtual e falar diretamente ao povo em todos os rincões do país pois começa a se notar que a mesma decepção que gerou Bolsonaro pode vir a gerar algo pior mais a frente, isso se imaginando que haja algo pior.

Tenham todos um bom domingo.

Marcio Alexandre Martins Gualberto

Editor

#OparáSaberes – Carla Akotirene, da revolta à ascenção negra em Mestrados e Doutorados!

Ela é assistente social, recém integrada no quadro de docentes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisadora da Epistemologia Feminista Negra, Mestra, Doutoranda em Estudos de Gênero, Mulheres e Feminismo (UFBA) e idealizadora do Opará Saberes.

Opará é uma iniciativa que visa auxiliar estudantes negros e negras nos cursos de nível superior nas Universidades estaduais e federais. Carla Akotirene é nossa entrevistada e falou pra nós sobre a iniciativa, que chega a sua 2ª edição na próxima terça-feira (24). Confira:

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130 anos: a liberdade ainda não cantou

Mônica Custódio

O fim do sistem escravista não resultou na inserção da população negra nas relações sociais, culturais e econômicas na vida dos brasileiros no final do século 18. E muito menos agora, 130 anos pós Abolição.

Em pleno século 21, em meio a uma nova onda tecnológica, e ou uma nova Revolução Industrial (Indústria 4.0) nos deparamos com pautas extremamente atrasadas, com governo golpista, ilegítimo, antidemocrático. E ainda uma agenda de retrocessos nos direitos sociais e trabalhista. Estamos nas ruas pela defesa de reinvindicações do início do século, como as pautas que deflagraram as greves de 1917.

Após 13 anos de avanços as trabalhadoras negras, os trabalhadores negros, e não negros, em um governo pautado pelo desenvolvimento e inclusão social, que possibilitou um cenário de maior distribuição de renda com o aumento real do salário mínimo, e o reconhecimento das centrais sindicais, as vitórias na área de educação (todos os níveis), saúde, cultura e a paz no campo.

O que nos deparamos nesta quadra da conjuntura nacional, no que diz respeito ao mercado de trabalho, é o fim dos direitos trabalhista, direitos individuais e coletivos. São as propostas de reformas, uma verdadeira ofensiva contra a classe trabalhadora.

A previsão do governo ilegítimo é de golpe nos direitos do povo, com a reforma da previdência PEC 287/2016, onde ampliam o tempo de contribuição, em meio a uma reforma trabalhista (PLC 38/2017), que usurpa o direito ao trabalho digno, e que joga sua população nas condições de trabalho precário e rotativo, com direitos e relações flexíveis, tempo de trabalho indeterminado, o uso do trabalho intermitente (Jornada ou Hora de serviço), consequência da terceirização. Esse é o cenário nas relações de trabalho, em meio aos 130 anos da “Abolição”.

É neste cenário que trabalhadores públicos e privados lutam pela manutenção de seus direitos, contra as reformas e o desmonte do estado. A nova Revolução Técnico Industrial, as TI’s (Indústria 4.0), nos trará como resultante um nível de desemprego nunca visto na história de nosso país. Seremos o 4º pais mais afetado por essa onda tecnológica. E o que podíamos contar como preparo para essa etapa importante das novas relações sociais, foi perdida com a paralisia das crises econômicas e políticas constituídas pela Lava Jato, responsável pela paralisia e quebradeira de vários setores da indústria, com maior nível de empregabilidade na economia do país.

A política de estado mínimo instalada em nossa estrutura social, com a aprovação da PEC 55, Emenda Constitucional 95/2016, a PEC do fim do mundo, nos retira qualquer forma de perspectiva pelos próximos 20 anos. E as consequências destes desgovernos todos, é o retorno do desemprego, da fome, dos moradores de rua, do fim postos de saúde, e do aumento irrestrito da violência. E uma das violências mais aviltantes é a lógica de exclusão, que ceifa o dia as perspectivas de nossos jovens, não nos permitindo qualquer ponte com o futuro.

Os indicadores sociais, e do mercado de trabalho, nos revelam que, em alguns aspectos, as desigualdades raciais e a discriminação de gênero se cruzam e se potencializam. A situação da mulher negra evidencia essa dupla discriminação. Ao olhar essa distribuição também por gênero, as desigualdades são ampliadas. No que se refere ao valor da remuneração média do homem não negro. Em 2014, a mulher não negra recebe 72,3% da remuneração do primeiro. Já o homem negro recebe 71,6% e, por último, a mulher negra recebe 50,5%, metade da remuneração do homem não negro.

É histórico perceber que negras e negros sempre estiveram em situação de desvantagem, e os acontecimentos infelizmente ratificam essa questão, a relatora especial das Nações Unidas sobre questões de minorias nos alerta como sempre que “A pobreza tem cor no Brasil”, e os negros são os mais vulneráveis nas crises, é o elo mais fraco da corda econômica do país. A situação das relações produtivas dos negros e negras nas relações de trabalho, revelam que a situação econômica da população dos nossos trabalhadores no contexto recente do processo de estruturação passou por melhorias significativas, mas, no entanto, não podemos deixar de entender que essa mesma dinâmica ainda expressa uma construção, racista, homofóbica e sexista.

Segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED, o rendimento médio por hora recebido pelos negros corresponde a 76,6% dos não negros, outra questão é a distância observada em relação às taxas de desemprego, e aí podemos perceber que as mulheres negras ainda se encontram em situação de desvantagem. Já essas ocupam a maior posição na taxa de desempregados ainda se mantendo em situação de maior vulnerabilidade em relação ao homem negro.

Os desafios que os movimentos sociais, e em especial o sindical, têm pela frente é a compreensão das nuances e singularidades da luta de classes em um outro ponto de vista. Não nos confundindo com o terceiro setor e, muito menos, nos direcionando por falta de compreensão ao multiculturalismo. Mas principalmente nos receber como instrumento essencial nos duelos de classes e no combate à estrutura dominante. Vide a base da composição histórica de nossa nação.
A luta antirracismo e a luta das mulheres, e tantas as outras que vêm no lastro das questões de gênero raça e classe, não podem ser entendidas como políticas subjetivas. Elas se portam nas relações de trabalho como fator determinante nas mais valia absoluta e relativa, essência da exploração do homem sobre o homem, segundo Karl Marx.

A Constituição Federal de 1988, no seu Artigo 5ª nos diz que: “Somos todos iguais perante a lei”. Só que não! O que temos é um estado dando nitidez a quem que ele serve. À burguesia. O que temos é o racismo institucional, que busca a todo tempo nos manter como base da pirâmide econômica e social, e também como exército de reservas de mão-de-obra. Nos constituindo sempre na condição de cidadãos de segunda classe.
Desta forma nossa luta continua por Salário Igual para Trabalho de Igual Valor. Pela vida de Nossa Juventude: Porque nossa Vidas Valem!

PRA SENZALA EU NÃO VOLTO NÃO!
FORA TEMER! DIRETAS JÁ!

Mônica Custódio é secretária de Promoção da Igualdade Racial da CTB.

​​TENTANDO EXPLICAR UM POUCO O QUE SE PASSA

Explicando em linhas bem gerais para quem tem dificuldade de entender os meandros da política.

Da primeira eleição de Lula a população escolheu um projeto para o país apresentado pelas forças progressistas. 

Este projeto implicava numa reconfiguração do nosso modelo de desenvolvimento que nos recolocaria em outra posição no cenário internacional. O pré-sal veio como um acerto da posição estratégica assumida pelo governo Lula de investir pesado num setor em que somente o Brasil tinha a espertise que era a exploração das águas profundas.

Descobrimos cerca de 20 trilhões de dólares em reservas de petróleo e com isso o Brasil virou vedete e Lula virou o cara. O desenvolvimento interno aconteceu e o Brasil virou fetiche internacional. Lula se reelegeu fácil.

No segundo mandato ele nadou de braçada, afinou a viola e aí cometeu seu maior erro político. Ao eleger Dilma Rousseff, uma técnica durona forjada nas salas de tortura e na luta armada, portanto pouco afeita às longas e cansativas negociações políticas, ele selou ali seu destino político e também o da nação, pois, mais de uma vez nossa história política provou que o presidencialismo à moda brasilis não se sustenta sem negociações com o congresso, muitas vezes na base do toma lá da cá.

Dilma se elegeu e reelegeu num cenário já de uma narrativa violenta e agressiva com o objetivo de dividir o país e preparar o cenário para o que viria.

Dilma foi apeada, assumiu o Michel como testa de ferro do PSDB, assumiu seus programas e o resultado está aí.

Efetivamente, nas últimas quatro eleições presidenciais, o programa político do PSDB foi rejeitado pela população. Agora, o PSDB usa de subterfúgios que começaram com a retirada de Dilma para tentar forçar, goela abaixo do país, um programa diametralmente oposto aos programas aprovados anteriormente.

Neste momento não se trata de estar a favor de Lula ou Dilma ou contra Aécio e Michel, mas, sim, de defender o programa político aprovado pela maioria da população nos últimos quatro pleitos.

Assim, os que estão defendendo a realização de eleições diretas no pós Temer, estão a defender tão somente o programa político e econômico que colocou o Brasil num novo patamar nos últimos 13 anos. Os que defendem as indiretas estão de acordo com a imposição do programa político do PSDB que significa a entrega do patrimônio nacional, incluído aí o pré-sal e seus 20 trilhões de dólares de valor estimado, além do genocídio social e econômico da população mais pobre do nosso país. 

Pensem, minha gente, estudem, formem suas opiniões e não se deixem levar por nomes, pois eles pouco importam, o que está em jogo são os programas e o que nós como povo queremos para o futuro do nosso país.

Minhas impressões sobre a PEC 241/55

E eis que o presidento Michel e sua equipe econômica apresentaram ao Congresso uma Proposta de Emenda Constitucional que congela os gastos públicos por 20 anos e propõe a extinção de vários programas sociais, incide sobre o funcionalismo público e prevê redução de investimentos em saúde e educação. Continuar lendo

O QUE ENSINA AO POVO DE MATRIZ AFRICANA A ELEIÇÃO DE CRIVELLA NO RIO?

estado-laico-brasil1O antigo ditado espanhol que diz: “quando você vir as barbas de seu vizinho pegar fogo, ponha as suas de molho”, transmite a idéia que você deve estar atento ao que acontece à sua volta para, em alerta, agir para que não aconteça contigo o que já aconteceu aos outros. Continuar lendo

Não, o Brasil não vai quebrar. Só ficará mais indecente!

classe-media-nao-quer-direito-quer-privilegios-milton-santosPrestem bastante atençao porque a coisa é simples. O Brasil não vai quebrar nem amanhã e nem depois de amanhã. Se rouba nesse país desde a chegada da primeira caravela mas agora a culpa de tudo é a roubalheira promovida pelo PT. Não digo que o PT não roubou, mas se roubou não foi o único.  O sistema político brasileiro é estruturado em cima da lógica da roubalheira, o PT foi amador e arrogante e caiu na armadilha montada pelos seus “mui amigos” que só esperavam uma oportunidade para pôr a boca na botija, como se dizia antigamente. Continuar lendo

A Contraposição Simbólica Entre o Fome Zero de Lula e o Banquete de Michel

fomezeroEm 2002 Lula se elegeu presidente da República após três tentativas frustradas. A onda vermelha liderada pelo PT varreu todo o país e, à exceção de Alagoas, o líder petista venceu em todos os estados da Federação. Falava-se em uma disparada do valor do dólar; alguns diziam que 800 mil empresários iriam pra Miami, e Lula, entre o período de transição, anunciou o Programa Fome Zero, que consistia em combater a fome e as suas causas estruturais, que geram a exclusão social e para garantir a segurança alimentar dos brasileiros em três frentes: um conjunto de políticas públicas; a construção participativa de uma Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; e um grande mutirão contra a fome, envolvendo as três esferas de governo (federal, estadual e municipal) e todos os ministérios. De acordo com o site do programa, no Brasil em 2003 existiam 44 milhões de pessoas ameaçadas pela fome. O Programa Fome Zero consistia num conjunto de mais de 30 programas complementares dedicados a combater as causas imediatas e subjacentes da fome e da insegurança alimentar, implementados pelo ou com o apoio do governo federal. Continuar lendo

PRECISAMOS FALAR MAIS SOBRE O HAITI

Eu acalento há muitos anos um sonho: escrever um livro sobre o Haiti. estive para ir lá algumas vezes, articulei com amigoshaitianos, organizações internacionais, mas nunca aconteceu. Recentemente, em uma das minhas ultimas internações no hospital do coração, fui atendido por um médico, oficial do Exército, que me desestimulou totalmente a viagem ao país. Ele, que serviu na Minustah, me disse que eu não aguentaria o impacto emocional de ver o estado daquele país. Continuo acalentando o sonho e à medida em que eu melhore, ou não, avaliarei as possibilidades de uma visita ao Haiti. Continuar lendo